wings

Uma voz, harmoniosa e fraca, perdia-se sobre as ondas; e o vento levava os trinados que Léon ouvia passar, ao seu redor, como um bater de asas. (in Madame Bovary, Flaubert, p. 226)

As ruas daquela cidadezinha ainda são as mesmas: largas, cheias de nada, vazias e escuras. São os sons do silêncio que nos ensurdece, malditas esquinas que têm nomes, inúteis. O cativeiro da liberdade, escondida por detrás das margens. Profundas e irreconhecíveis, sinais vermelhos, dando mostras de que agora tudo é perigoso.

Pessoas vagando pela estupidez, mal deste século. Um tipo de cansaço que até nos alivia, havia, ali. Modos infames, pensamentos lascivos, repugnantes. Que dirá de tudo? Que dirá de todos? Que dirá de ninguém? Basta não ser como os outros, não ser como os demais. Basta dizer que se tem o dom de não se ter. Querer.

As ruas daquela cidadezinha ainda são as mesmas: estreitas, vazias de tudo, cheias e claras.

Pessoas vagando pela estupidez, mal deste século. Um tipo de cansaço que até nos alivia, havia, ali.

_______
FLAUBERT, Gustave. Madame Bovary. Tradução, apresentação e notas de Fúlvia M. L. Moretto. São Paulo: Nova Alexandria, 2007.

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.