Tudo que os homens fazem, sabem ou experimentam só tem sentido na medida em que pode ser discutido. (Hannah Arendt, cientista política e filósofa alemã)
Em um país com tantas desigualdades sociais como o Brasil, é difícil aceitar que a riqueza esteja concentrada nas mãos de meia dúzia de pessoas. É difícil aceitar, por exemplo, que haja “proprietários” de latifúndios, enquanto há décadas brasileiros lutam pela distribuição mais justa de terras. É difícil aceitar que a imprensa seja controlada pelos donos dos principais veículos de comunicação, os quais – em grande parte do País – são também políticos. É difícil aceitar, ainda, o debate ainda raso sobre “democracia”.
Num país como o nosso, é ingênuo acreditar que o brasileiro é um povo honesto, hospitaleiro, sensível. Ora, aqui reside um número infinito de gente desonesta, xenófoba, mesquinha, estupidamente preconceituosa, imbecil. A começar pelo caráter aproveitador de cada um, que sempre busca levar vantagem em tudo, desde as pequenas trapaças cometidas por alunos de faculdade para tentar enganar o professor, até situações mais graves. Sensibilidade? É o quê? Assistir ao quadro “De volta para a minha terra”, apresentado na TV, e chorar copiosamente? Ah, quanta enganação!
E nem adianta alguém me dar a sugestão de sair do país e viver na Europa (lá, a maré não está tão pra peixe assim). Porque também é uma tolice sem tamanho querer sufocar o grito indignado de quem quer que seja, sob o argumento de que “os incomodados que se retirem”. É o mesmo que tentar fazer o caminho mais fácil – embora mais idiotizado -, que é o de não querer discutir os problemas de um país como este. Preguiça mental é a expressão que mais tem a ver com o Brasil.
Num país como o nosso, é comum ouvir que brasileiro é um povo bom. Bom? Só se for na hora de enganar o vizinho, furar a fila do supermercado, fazer trambiques… Um povo ocioso, que passa horas e horas tuítando, facebookeando, e é incapaz de estabelecer uma conversa coerente, sensata e lúcida com alguém. Um país com tantos analfabetos, muitos dos quais realmente não tiveram oportunidade de aprender, e outros tantos analfabetos sentados nos bancos das universidades ou participando ativamente das redes sociais.
Sim, o Brasil experimenta muitos avanços, sobretudo na área social. Mas isso ainda é insuficiente, se comparado ao tamanho e à gravidade dos nossos problemas. E não me parece razoável achar que a mudança depende apenas de vontade política ou de um determinado governo. Tudo me parece mais complexo. E, o que é ainda mais preocupante, dependemos do esforço coletivo. E esse “coletivo” inclui o babaca do trânsito, que dirige irresponsavelmente; o dono de imóveis, que explora os locatários; o motorista do ônibus em Brasília, que é grosseiro com os passageiros; aquele servidor público, que está pouco se lixando com a população de rua…
Definitivamente, o Brasil é um país de milhões de umbigos: cada um cuidando do seu.
Olha, este seu texto tem que ser publicado para uma revista bem conceituada… Caramba!!! você disse a realidade da nossa sociedade… parabéns!