A educação é uma coisa admirável, mas é bom recordar que nada do que vale a pena saber pode ser ensinado. (Oscar Wilde)
Sob os pés os paetês de brilho fácil
por Aline Menezes
Aproxima-se o início de mais um ano. Por conta disso, é comum as pessoas se sentirem ou nostálgicas ou cheias de esperança pela possibilidade de dias mais festivos e menos difíceis. Transitamos entre a melancolia do dia a dia e a euforia do amanhã, entre o cansaço deste ano que se vai e a energia milagrosamente renovada para o ano que virá. Essa espécie de experiência sazonal pode ser vivida por qualquer um de nós, porém, o que mais me chama a atenção neste período do ano é a maneira como nos esquecemos de que, durante todos os outros dias pelos quais passamos, fomos ironicamente impassíveis.
Tanto na imprensa nacional como nas salas de aula, se pensarmos em “espaços” que supostamente nos levariam a mudar nossa relação com o mundo, o que parece sobressair é o modo descuidado com o qual nos conduzimos no dia a dia. As notícias são as mais irrelevantes possíveis e são reproduzidas velozmente e sem nenhum pudor pelos jornais, TV’s, agências de notícias, rádios e revistas brasileiras… Nas faculdades, professores se esforçam para não parecerem tão imbecis ao acreditarem que obras literárias podem denotar ainda algum valor entre nós…
Talvez realmente não faça mais sentido a leitura de livros como “O retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde; “A gaivota”, de Anton Tchekhov; “A hora da estrela”, de Clarice Lispector; “Memórias póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis… Talvez realmente não faça mais sentido a leitura de nada mais que não sejam os trending topics do Twitter ou as últimas atualizações do Facebook. Talvez realmente não faça mais sentido incomodar-se com a ausência de sensatez, com a falta de disposição das pessoas de refletirem sobre a nossa estupidez, de tentarem mudar os abismos para os quais somos brutalmente empurrados.
Nas postagens diárias, o que vemos são pessoas infantilizadas por um clique em frente ao espelho. São homens e mulheres que demonstram a necessidade narcisística de parecerem cada vez mais belos e mais atraentes. Pessoas sendo devoradas pela ideia equivocada e distorcida de que é necessário receber centenas de elogios para nos sentirmos melhores e mais populares. Como se, com isso, o nosso cérebro e o nosso coração fossem se adequar à genuína necessidade que temos de tocar a vida de um modo menos bruto, menos estúpido, menos patético e muito mais real.
Como se, pelos filtros do Instagram, fosse possível alterar as cores da nossa frustração, da nossa angústia, dos nossos dilemas e do nosso mais pueril desejo de receber afeto. Como se, ao apertar o botão excluir, fosse possível descarregar dos nossos ombros o peso de sermos quem somos. Ou a dor de não mais podermos dizer…
… quão infelizes estamos.