A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende. (Arthur Schopenhauer)
A árvore que não apressa a sua seiva
por Aline Menezes
Além de viver, o que mais me interessa é falar, ler e escrever sobre a vida. Observo diariamente pessoas vivendo como se fossem imortais, organizando os seus mundos exteriores sem se darem conta de que a existência humana carece de um pouco de solidão: de momentos nos quais você se recolhe e pensa sobre o essencial da vida, o que de fato importa em relação a todos nós, aos amores, às amizades, ao dia a dia… Mesmo uma tosse alérgica cria esse efeito em mim.
Não é por acaso que, diante da iminência da morte, pessoas mudam o modo de encarar a vida e até de apreciá-la, compreendê-la, interpretá-la e dela fazer parte; diante da iminência da morte, muitos reconhecem que perderam tempo com preocupações irrelevantes ou com questionamentos sem sentido e nutriram sentimentos nada nobres.
Como não nos tornarmos insensíveis diante da brutalidade e da violência cotidianas? Como nos convencermos de que, apesar de tudo, devemos seguir adiante, mesmo quando não fazemos a menor ideia do caminho que devemos percorrer? Como compreendermos que a experiência humana não se explica por um único ponto de vista ou por um único tipo de conhecimento?
Para mim, belo mesmo é a inteligência aliada à capacidade de sentir as pessoas, sentir a existência humana, perceber a dor alheia e não aceitar passivamente as injustiças, os destemperos do mundo, as desigualdades sociais, o desrespeito a tudo que tem vida. Sem sensibilidade, sem essa capacidade de reconhecer as fragilidades da própria razão, a inteligência humana pode ser um desastre, um acúmulo de lógica primorosa…
… e nada mais.