SAD AND BEAUTIFUL

Sometimes I
Get so sad
Sometimes you
Just make me mad
It’s a sad and beautiful world…

(Sung by Paul Sandow)

O psicólogo existencialista Rollo May defende que “são as pessoas de personalidade fraca as que se sentem dominadas pela força da tradição, não podem suportar sua presença e, portanto, capitulam diante dela, desligam-se, ou rebelam-se”. Pelo que pude apreender de suas considerações, a proposta é nos fazer pensar que – longe de provocar o enrijecimento dos sentidos e das idéias – é possível mergulharmos na tradição e, ainda assim, conservarmos nossa própria singularidade.

Ele completa: “[…] quanto mais profundamente confrontarmos e sentirmos a riqueza acumulada da tradição histórica, tanto mais conheceremos e seremos nós mesmos. A luta, portanto, não é entre liberdade individual e a tradição como tal. O importante é saber de que modo a tradição é usada”. Isto é, seria possível nos relacionarmos com a tradição, sem que para isso nossa liberdade individual seja sacrificada?

Numa tentativa de se rebelar contra a tradição, muita gente cruza caminhos considerados “alternativos”, anulando experiências anteriores, desconsiderando a sabedoria dos antepassados e acreditando que esse comportamento os transforma em seres intelectuais, independentes e críticos da nova sociedade… Como se houvesse algo de puramente novo debaixo dos céus! Esse tipo de rebeldia, como escreve Rollo May, é muitas vezes confundido com a própria liberdade, “tornando-se um falso porto de refúgio na tempestade por dar ao rebelde um ilusório senso de independência”.

Autor de “O homem à procura de si mesmo”, Rollo May acrescenta ainda mais: “[…] a essência de um clássico é emergir de tais profundezas da experiência humana que, como as obras de Isaías, a tragédia de Édipo, ou O Caminho de Lao-Tzu, seja capaz de comunicar-se conosco, que vivemos séculos mais tarde, em culturas inteiramente diversas, falando-nos com a voz de nossa experiência, ajudando-nos a compreender melhor a nós mesmos e a enriquecer-nos, despertando ecos que talvez não soubéssemos existir”.

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MAY, Rollo. O homem à procura de si mesmo. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1982, p. 129, 172 e 173.

Paul Sandow é o personagem interpretado por Paul Dano, no filme “The King” (2005), com Gael García Bernal, William Hurt e Pell James no elenco.

8 Replies to “SAD AND BEAUTIFUL”

  1. É, romper com a tradição não é sinal de liberdade ou individualidade mesmo. Até porque acho que não podemos romper 100% com a tradição. Sempre guardamos algo, ainda que inconscientemente.

    Não é mesmo! bjo, Aline

  2. Há tradições e tradições.

    Ter alguma tradição é em certo sentido ter uma estrada de ladrilhas amarelas, um caminho já percorrido, uma estrada de certa forma segura, mas que só se faz estrada ao ser percorrida, porque a tradição é a experiência de outrem, e não sua mesmo.

    Seguir as tradições não é sinal de ser antiquado, nem quebrá-las é sinal de ser moderno.

    Exatamente… beijo, Nina

  3. Não sigo tradições! Meu avô era assim, meu pai também, somos revolucionários há gerações! Abaixo as tradições!

    ahahahahaahahah… bjo, Aline

  4. não tente desqualificar meu comentário sendo irônica, sou sensível a isso

    ahahahahahaah

  5. Eu concordo muuuuuiiito!
    Tudo certo, certíssimo!

    😛 beijo

  6. Eu penso que hoje em dia vivemos um vazio de certezas, não digo verdades absolutas no sentido de não poderem ser pelo menos questionadas, digo de um “por quê”, por que não faço isso ou aquilo… Em sentido de nos conhecermos e nos aceitarmos. As tradições de certa forma nos mostram caminhos que deram certos ou não, conselhos que você pode até não segui-los, mas não pode deixar de pelos menos conhecê-los. Somos condicionados por tradições, mesmo inconscientemente. Ótima reflexão Aline, beijos! :o)

    Les, obrigada pela visita. As tradições têm sua importância e seu valor. É no que acredito. Um beijo, Aline

  7. Qualificar o caráter de alguém pelo seu comportamento diante de algum fato ou coisa é algo simplista, que apenas poderá servir para nos dar uma idéia a favor ou contra. O que não é pouco. Não serve para muito mais.
    Tchekov confessava-se de caráter fraco, por isso escrevia. Da mesma forma com outro comportamento Nathanael Howthorne; pediu perdão aos céus pelo fato de seu avó ter sido o juiz das Bruxas de Salém. Queria tirar o carma da família com esse pedido, pois acreditava-se perseguido por ele – o carma.
    São dois exemplos que me vêem à cabeça, para acender uma outra luz nessas sombras do mundo interior.
    Parece-me mais acertado dizer: independentemente da natureza do seu caráter o homem têm reações de adaptação, rejeição ou conformismo diante da tradição estabelecida. E ao longo de apneas um dia, poderá manifestar as três tendências. Que tal? Parabéns pelo texto e pela lembrança. Gostei muito. Bjs.

  8. Taí Aline, gostei do blog. Valem as indicações e livros e filmes e as discussões. Virei mais vezes.

    abraço

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