PURO E SIMPLES

por Walter Cruz

Terminei de ler, recentemente, o livro “Cristianismo puro e simples”, do escritor inglês (na verdade, irlandês), C. S. Lewis.

O livro é uma compilação de uma série de programas de rádio sobre a fé cristã, feitos por Lewis entre 1942 e 1944, durante o período da segunda guerra mundial. Mas poderiam ter sido feitas ontem.

Ele trata dos temas e ensinamentos básicos do cristianismo: a lei natural, a noção de um Criador, o pecado, o bem, o mal, o diabo, redenção, comportamento, amor, fé, moralidade, casamento, perdão, eternidade e trindade, entre outros.

Ao ler o livro, a impressão que tive é que nós, cristãos, temos sido roubados. Não um roubo doutrinário: embora algumas igrejas tenham extrapolado alguns desses conceitos, passando desde incoerências até a erros completos sobre alguns deles, não é desse roubo que falo. É do roubo estético.

Parece que os evangélicos escolheram a música (e em alguns casos, apenas um sub tipo de música ruim com chavões recorrentes) como sua arte (em detrimento do teatro, dança, poesia, literatura e todos os outros tipos de arte), deixando para a teologia a tarefa de traduzir verdades em (insípidas) palavras. Ou, para ser mais sucinto: qual foi a última vez em que você ouviu a doutrina da trindade explicada de uma forma bela? Você já ouviu a encarnação explicada de uma forma empolgante?

Fica uma ressalva: a beleza não é a verdade, nem toda verdade é bela. A redenção é bela, mas a queda não (mas para chegarmos à primeira, temos de passar pela segunda). Usamos a matemática para calcular nossos créditos e débitos no final do mês (cujos resultados não são sempre bonitos). Um especialista em computação gráfica usou a matemática como uma das ferramentas para dar vida ao leão Aslam, que a tantos emocionou na recente filmagem de “O leão, a feiticeira e o guarda-roupa”.

Dito isso, deixo pequenas citações do livro:

“Não devemos nos preocupar com os irônicos que tentam ridicularizar a esperança cristã do ‘Paraíso’ dizendo que ‘não querem passar a eternidade tocando harpa’. A resposta que devemos dar a essas pessoas é que, se elas não entendem os livros que são escritos para adultos, não deveriam palpitar sobre eles. Todas as imagens das Escrituras (as harpas, as coroas, o ouro etc.) são, obviamente, uma tentativa simbólica de expressar o inexprimível. (…) As pessoas que entendem esses símbolos literalmente poderiam pensar que, quando Cristo nos exortou a ser como as pombas, quis dizer que deveríamos botar ovos.”

“Ele opera em nós de diversas maneiras: não apenas dentro dos limites do que chamamos ‘vida religiosa’, mas também por meio da natureza, do nosso próprio corpo, dos livros, e às vezes inclusive mediante experiências que poderiam ser vistas (na hora em que aconteceram) como anticristãs.”

“Com quase toda certeza, Deus não está no tempo. A vida dele não consiste de momentos que são seguidos por outros momentos. Se um milhão de pessoas oram para Ele às dez e meia da noite, Ele não precisa ouvi-las todas no instantezinho que chamamos de dez e meia. Dez e meia, ou qualquer outro momento ocorrido desde a criação do mundo, é sempre o presente para Deus. Para dizê-lo de outra maneira, Deus tem toda a eternidade para ouvir a brevíssima oração de um piloto cujo avião está prestes a cair em chamas.”

Fonte: http://www.waltercruz.com

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