Porque há desejo em mim (por Hilda Hilst)

|| Após tantos meses sem novas publicações neste espaço, retorno com a estreia de uma série de poemas que integram a lírica erótica brasileira e estrangeira. A partir de hoje, neste ano de 2021, enquanto lutamos contra os impostores e as imposturas de governantes irresponsáveis, os negacionistas genocidas, atravessaremos o caminho com poesia erótica, e começo com um de seus nomes femininos mais conhecidos no Brasil, a poeta e cronista paulista Hilda Hilst (1930-2004): 

Porque há desejo em mim

Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada.  

Fonte: Site Hilda Hilst


Imagem principal: da artista @paulabonet

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