O cenário é simples: um sol forte, no céu de cores quentes, queimando o rosto envelhecido do sujeito. O tal homem com um chapéu modesto para proteger-lhe a cabeça. Seus pés tocando o chão pedregoso do qual quase não brotou verde. Vê-se uma plantinha; mas não parece que a natureza foi generosa para com ela, pois é uma planta sozinha, quase sem cor. Luz, tem muita. Porém, falta água. E a plantinha parece olhar para o céu, esperando uma nuvem carregada surgir.
Mas, voltando à figura do homem, que está numa pedra; seus olhos apertados, como se olhasse para o infinito. A expressão do rosto faz dele mais velho – já não bastasse o sol que lhe deu uns anos mais – cria rugas ao redor da boca. Esta não provou iguarias, senão os grãos que tirara da terra. Bebida? Só quando a esposa morreu. Provou um gole de cachaça, que desceu queimando ao estômago. Chamaram-lhe pinguço. Não se importou com a ofensa. Pior que ela foi o gosto amargo que provou, um gosto parecido com a sua vida. As mãos, grossas e com aspecto de que já pegou as mais pesadas enxadas para cavar as terras mais difíceis.
O homem, o tempo, a vida, tão parados que se confundiam com um retrato. Mas algo se moveu: foi uma lágrima que desceu molhando a plantinha. E esta, toda contente, pensou que, enfim, iria chover.
Senhorita Spellman
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Texto de autoria de minha irmã Cecília, escrito para o 3º Concurso Literário Prosa e Verso, realizado em 2005 no Rio de Janeiro.