Tropecei. Caí. Torci o pé esquerdo. Levaram-me ao hospital, diga-se de passagem: público. Fila de espera. Peregrinação. Primeiramente, pega-se uma ficha numérica (nem todas as fichas são numéricas). Meu número é 100. Depois, passa-se numa sala de “triagem”, onde o médico diz o tipo de especialista que deverá ser consultado. No meu caso, já sabia que era ortopedista. Não havia mistérios. Mas, ainda assim, precisei esperar. Após receber ficha indicando “ortopedista”, dirijo-me ao balcão de preenchimento de dados pessoais. Em seguida, fico numa fila aguardando ser chamada. Quando sou chamada, aguardo numa outra fila. Desta vez, dentro do recinto médico. Eles eram inexperientes. Entendo. Eram dois. Deviam ser da década de 1980. Assim como eu sou. Um deles me atendeu. Rapidamente, sem nem examinar direito o meu pé, apenas perguntou: dói? E eu, como boa menina que sou, disse: o senhor poderia tocar no meu pé pra eu saber onde dói? Ele tocou. Doeu. Daí, ouvi do médico: você será encaminhada à sala de raio-X, acho que houve fratura, não deve ter quebrado, mas…
Dirijo-me ao balcão da outra sala. Aguardei por mais trinta minutos. Aline fulana de tal!!!! Sou eu. Entrei numa outra sala de espera. Pronto! Chamaram-me de novo. O ‘rapaz do raio-X’ era mal humorado, como quase todos os outros funcionários do hospital. Ele pegou o meu pé e me disse a posição certa pra eu ficar. Não consegui fazer o que ele me pediu. Impaciente, o ‘rapaz do raio-X’ pegou meu pé com força. Senti dor. De raiva. Tirado o raio-X, era a vez de aguardar o resultado. Após o resultado, voltei àquela sala dos médicos inexperientes. A porta estava fechada. Não tinha ninguém. A fila só crescia. Não agüentava mais. Estava cansada, o pé estava cada vez mais inchado, minha barriga vazia, estava com sede.
Depois de muito nervosismo de todos da fila, alguém abriu a porta. Eram outros dois médicos. Outros plantonistas. Um deles olhou o raio-X e disse: é, pelo visto, não quebrou nada; provavelmente, os ligamentos se romperam; vou encaminhá-la à sala ao lado para colocar uma tala na perna. Você ficará de repouso por 14 dias. Olhei nos olhos do doutor e perguntei: o senhor poderia me tirar algumas dúvidas? o senhor vai me passar algum antiinflamatório? já que o senhor não tem certeza (até mesmo porque pelo raio-X não tem como saber) se os ligamentos se romperam, existe algum exame especializado? O médico me olhou como se olha para um idiota e disse: bom, como eu falei pra você, coloque uma tala; não vejo necessidade de você fazer um exame especializado, até porque teria que ser pago, pois aqui não faz. Peguei o atestado, a receita e agradeci. Não deve ser fácil ser médico em hospital público. O salário deve ser desestimulante. As condições de trabalho devem ser horríveis.
Aguardei na sala ao lado. Era a última paixão de Cristo. Fiquei um tempão esperando o ‘homem da tala’. Ele abriu a porta algumas vezes. Numa delas, fechou na minha cara. Literalmente. Quando entrei, ele disse: você está com pressa, né? Respondi: o que você acha? estou aqui desde as 13h30, já são 18h55… Ele retrucou: mas hospital público é assim mesmo, você precisa entender. Naquele momento, decidi não prolongar a conversa. Seria abuso demais da minha parte. Imagine!!! Tanta gente esperando, tanta gente na mesma situação que eu, tanta gente em piores condições que eu… Imagine!!! Era muita arrogância de minha parte querer um atendimento digno. Querer ser tratada como gente. Imagine!!! Era apenas um hospital público… Será que eu não tinha percebido? Pobre Aline! Quem mandou tropeçar?
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NOTA: Ainda estou de repouso. Espero nunca mais precisar do Hospital de Base.
olá! as melhoras para si! nunca sofri disso, mas os mais velhos dizem que faz bem água quente e sal no pé. bj
Nuno, obrigada pela visita e pela dica dos mais velhos. Sempre que quiser, apareça. abraços, Aline
Aline, tenho sentido a sua falta. Melhoras pra vc, passei pra dá um oi. Depois volto pra comentar direito. bjs
Helen, eu também tenho sentido falta de mim! 😛 Estou há 10 dias em casa, sem poder fazer nada direito. Ainda ontem, minha perna doeu bastante. É péssimo! Saudades de você, beijos
literalmente, esta é uma crônica digna de Veríssimo! [ooohhh!]
sim, eu sei que foi uma coisa muito trágica, Aline, mas você conseguiu colocar humor em toda a história.
Adorei o texto, apesar de ter acontecido o que aconteceu com você. O rapaz do raio-x literalmente pegou no seu pé, hein?
Melhoras aí, prima.
Da próxima, não meta o pé onde não for chamada! ahahaha
adorei aquela frase que você falou no comentário.
bjos,
Duka, tou aprendendo que é preciso ter bom humor pra levar a vida… Ando impaciente com essa tala. Você é muito engraçado, né? “Da próxima, não meta o pé onde não for chamada!” Qual frase? Em qual comentário? No seu? beijos, sua prima
Oi Aline!
Que cena mais tragicômica! Infelizmente tudo isso é uma realidade…
Melhoras para o seu pé, e o melhor é você ir num ortopedista particular, querida… Só pra ter “uma segunda opinião”.
Beijos!
Rebeca, foi exatamente o que fiz na última sexta-feira. Fui a outro ortopedista. Ele tirou a tala e constatou que o ligamento do pé se rompeu. Meu pé estava roxo e ainda inchado. O doutor pediu pra eu ficar mais 15 dias com a perna imobilizada. Desta vez, com a belíssima bota branca. Eu não mereço!!!! ai ai bjs, Aline
olá! vejo que ainda está em recuperação. as melhoras e um bom fim de semana, dentro do possível! bj
É isso mesmo, Nuno. Estou ansiosa pra voltar a pular… beijos, Aline
Olá, querida… só vim msm prá te convidar a fazer sua última visita (temporariamente) ao meu blog… lá vc saberá os motivos… vlw… bjs!!!
Li seu blog, comentei e ainda mandei um email pra vc. beijos, Aline
Aline,
espero que se restabeleça logo. Também quebrei a perna há algum tempo e foi muito parecido, este é o país no qual vivemos.
Enviei email pra vc com as infs que pediu. Vamos conversar sobre o assunto?
Vamos, sim, conversar sobre o assunto. Mandei email novamente. abraços, Aline
Quase choro, sério mesmo, e vc jah começou a escrever seu livro são nesses momentos de dor que as emoções são mais sinceras.Melhoras
Que livro? ahaha Não estou pensando em escrever nenhum livro. Quem sabe daqui a 15 anos!!! Ah, e não precisa chorar. Hoje, graças a Deus, comecei a dar os primeiros passos. Amém!
Ah, Aline, seria mto abuso de sua parte, da parte de qualquer brasileiro honesto e sem renda exorbitante, apesar de muitos impostos pagos, exigir respeito como ser humano, querer ser respeitado dentro daquilo que é um direito seu constituído.
Aqui, há respeito para o maldito jeitinho brasileiro, pra corrupção, pros absurdos. Como tenho ouvido com freqüência e a contra gosto “Isso é o Brasil”. Não sei quando isso vai mudar, se vai mudar, enfim, é lamentável.
Querida, melhoras p/ vc.
ps: Tbm escrevi sobre isso no meu blog.
Já visitei o seu blog e deixei comentário. Será que fazemos parte de uma geração que fará algo pelo nosso país? beijos, Aline
Gostei do estilo da narrativa, os parágrafos curtos e diretos. Pena que seja uma história tão triste (e real) a ser contada!
Também gosto de narrativas com parágrafos curtos e diretos. Acho que já superei a raiva do “homem da tala”, do “homem do raio-X” e dos plantonistas descuidados e insensíveis. Um xero, Nina
Às vezes os “tropeços” fazem parte da nossa vida!… Sem eles (os tropeços)- também às vezes- não conseguimos evitar o “pisar em falso”. Sem eles não percebemos o quão difícil é corrigi-los… Sem eles torna-se complicado compreender o porquê de as pessoas tropeçarem tanto na própria vida… Mudando de assunto e respondendo à sua pergunta, não tenho idéia de quando irei torná-los (os livros) públicos, pois há outras prioridades, as quais não posso adiá-las mais.
Sem dúvida, tio Joésio, os tropeços fazem parte da vida. Você preferiu usar a metáfora para ilustrar o caos… No meu caso, o meu tropeço só me fez constatar que hospital público é uma vergonha nacional!!! No mais, espero que consiga públicar os livros. Aline
Aline,
Adorei sua página.
Parabéns…
Beijos,
Cláudinha
Cláudia, muito obrigada pela visita. Sempre que puder, venha novamente. beijão, Aline
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