O AMOR NATURAL

Ó TU, SUBLIME PUTA ENCANECIDA

Ó tu, sublime puta encanecida,
que me negas favores dispensados
em rubros tempos, quando nossa vida
eram vagina e fálus entrançados,

agora que estás velha e teus pecados
no rosto se revelam, de saída,
agora te recolhes aos selados
desertos da virtude carcomida.

E eu queria tão pouco desses peitos,
da garupa e da bunda que sorria
em alva aparição no canto escuro.

Queria teus encantos já desfeitos
re-sentir ao império do mais puro
tesão, e da mais breve fantasia.

(Carlos Drummond de Andrade)

Só o vento sabe sobre mim. Não adianta mais correr. O tempo não mais irá chorar, pois acabou a tempestade. Em pratos limpos, os prantos vão. Assim vem a melodia… que me convence do que é certo só aqui. As rosas que não chegam mais ao fim. Mesmo sem chuvas. Sem sol. Nada há de me impedir. Sigo os encantos desta vida. Com os cantos escuros da aparição. Os pecados que me trazem de volta… as flores. Tantas velhas rosas novas.

A espessura da solidão acompanhada. Dos riachos, dos jardins, das novas janelas. Que se abrem estampadas em nosso olhar. Sim, não vou fazer esforço pra contrariar. Seja assim como estiver. Se, por acaso, o caminho não se declarar. E nem adianta mais correr. Verdes mares. Sem agrados. Com desejos. Pele, tato e sabor. E assim sigo os encantos desta vida…

… deste delicioso inferno literário.

___________
ANDRADE, Carlos Drummond de. O amor natural. 16ª edição. Rio de Janeiro: Editora Record, p. 77.

6 Replies to “O AMOR NATURAL”

  1. Seguir consoante a corrente, deixar de lutar insanamente contra ela, ótima idéia, trocar a pseudo liberdade pela harmonia. Grande iluminação nos cantos escuros. Ótima idéia, grande texto. Bjs

    Djabal, visitei seu blog e deixei alguns comentários. Sobre o trocar a pseudo liberdade pela harmonia, vejo que entendeu o espírito do que escrevi. beijo, Aline

  2. Aline, eu adoro Drummond e vejo que vc anda inspirada, belo texto. bjão

    Pra postar os videos do youtube vc tem q fazer assim

    [youtube=endereço do vídeo]

    pelo menos no wordpress é assim. bjão

    Helen, sua dica não funcionou para o meu site. Mas eu vou recorrer ao Google… Eu gosto de Drummond. beijo, Aline

  3. Ó sublime pele ressecada, largada ao largo do caminho pedregoso, sinto seu cheiro, mas já não seu tato… Vai… ficar para trás que outra mulher nasceu, completa, inteira, ousada. Tal Vênus não está em nossas cabeças, mas diante dos nossos olhos. Bem-vinda.

    Edison, que lindo comentário poético! Reproduzo algo que encontrei na net: “Nasce uma nova mulher! Irradia-se diante de um mundo cheio de cor. Entre flores, luzes, sonhos e fantasias. Caminha por lugares antes nunca percorrido. Feminina. Enfrenta as feras, como se outrora fosse sempre guerreira” (trechos do poema “Brindar”, de Ge Fazio). beijos e muito obrigada pela companhia, Aline

  4. Aos que pensavam que no caminho de Drummond havia somente pedras, enganaram-se. As meretrizes também cruzavam o seu caminho… E por falar em “caminho”, estou trilhando o meu. Dia 15/12 (sábado) tornar-se-á público mais um fio que ajudará a tecer o meu caminho na literatura. Sairá do forno e estará à disposição o mais recente trabalho: Um Dedo de Prosa. Conto com vocês.

    Tio Joésio, parabéns por mais esse livro! Sim, no caminho de Drummond, não existiam apenas pedras… Assim como no caminho de cada um de nós. beijos, Aline

  5. Só quem foi puta na vida/
    Sofre com as provocações/
    Deste poema expressões/
    Das velhas lembranças idas/
    Guarda na mente as feridas/
    De quando vendeu seu corpo/
    Levou pontapés e socos/
    Por poucos foi acolhida/
    No passado tão sofrida/
    E muitos delas faz pouco./
    *************************
    //Anizio

    Anizio, obrigada pela visita. abraço, Aline

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