Neste 1º de maio, Dia do(a) trabalhador(a) ou Dia do Trabalho, compartilho o artigo do meu amigo, poeta, professor e escritor Marcos Fabrício. Confira!
O futuro do trabalho
Marcos Fabrício Lopes da Silva*
Temos assistido a profundas mudanças nas relações de trabalho em quase todas as partes do mundo. Estas mudanças estão ligadas a transformações mais gerais no capitalismo, como a globalização e o processo de flexibilização das relações de trabalho, bem como às revoluções tecnológicas, em especial o desenvolvimento dos computadores e da internet. Como se poderia esperar, há posições bastante divergentes sobre o significado destas mudanças nas formas de contratação e uso do trabalho: num polo estão os que as veem como um processo; em outro, os que identificam tais mudanças como um processo de deterioração das condições de vida dos trabalhadores a partir da desregulamentação de seus direitos em favor da acumulação privada de capitais pelas grandes empresas.
O pensamento voltado para a humanização das organizações tornou-se presente nas relações de trabalho a partir dos anos 30 do século XX, em contrapartida aos rígidos sistemas de produção instaurados por Frederick Taylor (1856-1915), que tinham na padronização de ambientes e tarefas seu principal recurso à maximização da produção. Nesse método científico de organização do trabalho, o indivíduo era visto como sujeito passivo do processo produtivo, mero executor de atividades automatizadas. Com o objetivo de perceber os impactos do ambiente e da tarefa no desempenho produtivo dos trabalhadores, a investigação sobre os aspectos motivacionais no trabalho deu origem à Escola de Relações Humanas que, em 1947, ficou conhecida como Escola Comportamental, reconhecida pioneira nos estudos relativos à qualidade de vida no trabalho.
Voltada para a promoção de melhores formas de trabalho, em que estejam contempladas a saúde, segurança e satisfação dos empregados, a qualidade de vida no trabalho (QVT) é vista como importante política às pretensões de ganhos de produtividade e comprometimento organizacional, sugerindo que, além de condições físicas e psicossociais favoráveis, são aspectos também valorizados pelo indivíduo a equidade salarial e o aperfeiçoamento profissional. Pertencente ao microambiente das relações de trabalho, a qualidade de vida é medida estratégica da gestão de pessoas e, quando adequadamente aplicada, acredita-se contribuir favoravelmente na redução de manifestações de insatisfação, desinteresse e absenteísmo nas empresas, alinhando objetivos organizacionais a desenvolvimento humano, em uma comunhão de interesses em meio à conflituosa relação entre capital e trabalho.
Enquanto o emprego representa fonte de renda, o trabalho significa fonte de vida. Sobre tais aspectos, Solano Trindade (1908-1974) dedicou o poema Gravata colorida: “Quando eu tiver bastante pão/para meus filhos/para minha amada/pros meus amigos/e pros meus vizinhos/quando eu tiver/livros para ler/então eu comprarei/uma gravata colorida/larga/bonita/e darei um laço perfeito/e ficarei mostrando/a minha gravata colorida/a todos os que gostam/de gente engravatada…”. Soma-se ao empenho digno e decente do poeta a histórica declaração proferida pelo deputado Ulysses Guimarães (1916-1992), na promulgação da chamada Constituição Cidadã, em 1988: “só é cidadão quem ganha justo e suficiente salário, lê e escreve, mora, tem hospital e remédio, lazer quando descansa”.
Infelizmente, o contexto histórico demonstra que os métodos de organização do trabalho e suas transformações, identificadas pela crescente flexibilização de direitos e precarização da mão de obra, são diferentes estratégias adotadas pelo sistema econômico para manter a hegemonia do capital sobre o trabalho. “Por trás da conversa mole de flexibilização e racionalização das relações de trabalho está outro capítulo, versão periferia dependente, da volta triunfante do capital ao seu paraíso perdido do deixa-fazer total, pisando, no caminho, em todos os direitos conquistados pelo trabalhador em cem anos. Estamos numa onda de retroação” – alerta o jornalista Luis Fernando Veríssimo, em sua coluna no Jornal do Brasil, de 11/08/1998.
O governo quer a compreensão dos trabalhadores para o sacrifício de mais alguns dos seus direitos no combate ao mal que ele mesmo criou com seu modelo “empregocida”. Em vez de articular a legislação trabalhista com formas mais modernas de proteção social, estão saindo da Era Vargas para trás, para o sistema semi-escravagista que hoje continua no campo, mas então era regra em toda parte, e no qual o patrão decidia tudo sobre a vida do empregado. A atual crise na economia brasileira apresenta uma rara oportunidade para a análise de um aparente paradoxo com o qual o país se defronta há muito tempo. Por que, após cinco séculos, o Brasil, destinado a ser um verdadeiro eldorado, não consegue ultrapassar o estágio de um país subdesenvolvido?
De todos os fatores que fazem do Brasil ser o eterno país do futuro, ainda existe uma crença generalizada de que a prosperidade da nação advém de suas riquezas naturais. Ouro, ferro, manganês, café, cacau, soja e tantas outras commodities, para usar um termo na moda, seriam a fonte de prosperidade capaz de transformar e redimir o país. Tal engano, disse certa vez o economista Roberto Campos (1917-2001), “deveria ter ensinado aos nossos nacionalistas a enorme bobagem de se confundir recursos naturais, que são cadáveres geológicos, com riqueza real, que vem da educação e da tecnologia” (O Globo, de 02/01/2000). Apesar da independência política, em 1822, o Brasil não se libertou da mentalidade herdada da era colonial: exportar riquezas naturais ou bens manufaturados com pouca tecnologia embutida, e importar produtos ou serviços com tecnologia avançada e alto valor agregado. É o conhecimento tecnológico, capaz de criar produtos e serviços altamente diferenciados para preencher as necessidades e os desejos das pessoas, o real motor de um desenvolvimento sólido e pujante.
* Professor da Faculdade JK, no Distrito Federal. Jornalista, formado pelo UniCEUB. Poeta. Doutor e mestre em Estudos Literários pela UFMG.

concordo plenamente a verdadeira riqueza é a educação e tecnologia e não optar por esse caminho é deixar o Brasil no escravismo que é o que acontece
Muito obrigada, Jorge, pelo seu comentário!