Uma beleza entre aspas
Sueli é uma adolescente de dezesseis anos, filha mais nova de um casal pertencente à pequena burguesia. A anorexia começou aos doze anos durante as férias com seus pais. Queria perder peso, então decidiu mudar sua alimentação, “torná-la mais saudável”, segundo ela. No começo, foi apenas uma mudança nos alimentos habituais, mas que ao longo de algum tempo transformou-se numa árdua tarefa de transpor os limites do seu corpo. (1)
“Queria ser seca, não ter um pingo de gordura.” (Sueli)
Tão fácil como encontrar uma criança que gosta de sorvete, é encontrar revistas de moda cultuando o perfil “mulheres magérrimas”. Espaço na mídia tem de sobra para esse tipo de abordagem. Talvez, por isso, o culto à magreza esteja longe de acabar, ainda mais quando somos bombardeadas, diariamente, por “10 formas de como perder peso em 10 dias”; “aprenda a perder peso e se tornar uma Kate Moss (2)”; “os 100 segredos da beleza de Gisele Bündchen (3)”, e por aí afora.
Neste momento, a notícia mais recente que temos sobre as graves conseqüências de quem persegue a “imagem corpórea da magreza” é a da modelo Ana Carolina Reston Marcan, 21, morta por anorexia nervosa. (Ver outra notícia)
O drama de Carolina Reston trouxe de volta uma antiga discussão: a anorexia. “Anorexia nervosa é um transtorno alimentar quase exclusivo das mulheres. Elas constituem 95% dos casos e o número não pára de aumentar, principalmente na faixa dos 12 aos 18 anos. Infelizmente, na internet há vários sites em que meninas anoréticas trocam receitas para emagrecer cada vez mais e exibem com orgulho seus corpos esquálidos”, disse o médico Drauzio Varella, durante exibição do 12º episódio do “Questão de Peso”.
Quando assisti pela TV à reportagem sobre a morte da modelo, vim para a internet e vi um número enorme de matérias e artigos sobre o assunto. A vítima fatal da ditadura da “beleza” (ou da magreza?), desta vez, tinha sido uma menina de 21 anos, que queria seguir o sonho de ser modelo, de desfilar pelas maiores grifes do mundo, de permitir à família condições melhores de vida. Quase ninguém do meio da moda quis falar sobre o assunto. E os que falaram, a maioria minimizou a tragédia. Por que será? Restou o espaço para os psiquiatras, psicólogos e nutricionistas. Nas entrevistas (4), senti falta de figuras como sociólogos e antropólogos. Uma pena! Certamente, eles teriam (e têm) muito o que dizer.
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(1) GIORDANI, Rubia Carla Formighieri. A Experiência Corporal na Anorexia Nervosa: Uma Abordagem Sociológica. Dissertação de mestrado em Sociologia. Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2004.
(2) A modelo britânica Kate Moss, nos anos 90, foi a musa da grife Calvin Klein, exibindo seu “look” esquelético.
(3) Gisele Bündchen tem 1,79 cm de altura e 52 quilos. O seu Índice de Massa Corporal (IMC) é de 16,23. Ou seja, abaixo do mínimo de 18,5. Dizem que ela é magra naturalmente.
(4) Entrevista com Mauro Fisberg.
aline,
tb me interesso por abordagens sociológicas e antropológicas a respeito deste assunto… vc conhece alguma coisa? conhece o filósofo ian hacking?
Cássia, sou apreciadora da antropologia, da sociologia, enfim, das ‘ciências humanas’, porém, no momento, não tenho nada que irá lhe ajudar… Se quiser me enviar um e-mail com mais detalhes, faça isso. Um abraço e obrigada pela visita, Aline
com certeza,eu até fiz uma postagem sobre isso, depois dá uma passada lá
Bjoo