[…] façamos a mesma súplica de Alfred de Musset: “Poeta, pega tua lira”. Sim, é de verdadeiro lirismo que necessitamos, e não de adrenalina. Rompamos a aliança funesta que se atou entre a sensibilidade e o artificialismo. Recuperemos nossa capacidade de vibrar diante do que é natural e belo. (Michel Lacroix, filósofo francês, p. 203)
Angústia é o nó invisível; é a ausência de espaço dentro de nós. Recolher-se é a alternativa para a alma doída e triste. Ou a covardia para quem não quer expor sua ferida. Definições são tentativas de se explicar ou tornar algo minimamente acessível. E assim sigo: sem a compreensão exata do que nos acontece, mas com a esperança de que há algo menos petrificado no meio do caminho.
… saber dói. Morre-se: quem não enxerga a beleza das coisas naturais, quem depende de artifícios para perceber a distância entre ontem e hoje. Morre-se: quem não se divide ao menos uma vez na vida, para depois tornar-se inteiro. Morre-se apenas. Quem não completa o luto. Luto é não saber como será, mas permitir-se aceitar que já não é. Algo sempre nos arranca a vida.
Carrego minhas incertezas, cruéis e indizíveis. Perco o fôlego na escuridão que também nos ilumina, pequenos feixes de luz, reunidos na atmosfera insegura e móvel. Suporto quem sou; e me sinto em profundidade. Mas isso não me exige meditação, exige o meu olhar para fora, para as ruas e as calçadas, para o ar impuro que absorvo a cada respiração. Que observo a cada cicatriz.
________
LACROIX, Michel. O culto da emoção. Tradução Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: José Olympio, 2006, p. 203.
UAU! Tive que ler três vezes para absorver todo o lirismo do texto. Muito bom!