Nenhuma variação do convívio humano é plenamente estruturada, nenhuma diferenciação interna é totalmente abrangente, inclusiva e livre de ambivalência, nenhuma hierarquia é total e congelada. A lógica das categorias imperfeitas preenche a diversificação endêmica e a desordem das interações humanas. Cada tentativa de completar a estruturação deixa grande número de “fios soltos” e significados contenciosos. (Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, p. 93)
Seres melífluos têm caráter duvidoso, mas não me assustam. Somos empurrados para a indelicadeza e a alienação. A atmosfera das sociedades, sobretudo modernas, conspira contra a reflexão. Contra a lucidez. E, quando pensamos, tornamo-nos incômodos para o bando de idiotas que nos cercam.
Até mesmo os seres consanguíneos se repelem. Movidos pela inveja, pelas antipatias gratuitas, pelos complexos formados ao longo da árvore genealógica. E pelas comparações ridículas, infantis e estúpidas. Seres consanguíneos, quando contaminados pela burrice do século, tornam-se brutamontes.
Querem nos prender as asas. Com medo de que voemos. Mal sabem eles da nossa desconfiança: ah, sempre soubemos com quem estávamos lidando! Para eles, virtudes parecem defeitos escancarados; enquanto que as deformidades são aprecidadas como se obra de arte fossem.
As pedrinhas de areia estão por toda a parte. Dispostas a invadirem a boca dos mentirosos. Pessoas que não acomodam a beleza do outro. Não suportam a certeza de que o outro não depende dele para ser o que é. Que o outro não se iguala a ratos. Nem muito menos a esgotos.
_________
BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre as fragilidades dos laços humanos. Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorger Zahar Editor, p. 93, 2004.
Gostei do “virtudes parecem defeitos escancarados” é incrível a inversão de valores que temos visto.
“Não suportam a certeza de que o outro não depende dele para ser o que é”
Que sejamos menos invidualistas e mais individuais…
Discordo totalmente, é muito fácil ter inveja de você, seja mais condescendente. Um dia alguém me disse: “Respeite as limitações dos outros”, não precisa concordar, aceitar ou venerar, mas transigir.
“Que sejamos menos invidualistas e mais individuais…”. Esse comentário já disse tudo!