Inspirada pelos posts da Lesliane (para os íntimos, Les), avaliei alguns comportamentos que, geralmente, apresentamos nesta vida. Num dos textos de Les, ela afirma que gosta de Roberto Carlos e que não tem vergonha de dizer isso. E é claro! Ela não precisa ter vergonha. Existem várias razões para se apreciar uma figura, uma personalidade, uma música, um livro, um texto, um quadro, uma formiga, uma árvore… Eu, em particular, adoro a Jennifer Lopez. Tem gente que a adoia. Que considera suas músicas sem criatividade, que considera sua atuação repetitiva… Eu adoro!
Há um medo de se admitir alguns gostos, porque a “elite intelectualizada (ou, na minha opinião, revestida de falta de sensibilidade)” jamais apreciaria esses tipos de “gostares”.
Se vamos falar da musicalidade, por exemplo, determinado cantor pode não ser bom. Se vamos falar da capacidade literária de um certo escritor, podemos notar que não chega a tanto. Se vamos falar sobre um filme, pode-se perceber em sua produção cinematográfica falhas horríveis. É para isto que existem os críticos: observam de maneira técnica, analítica, fria ou sei lá o quê. No entanto, existem outros fatores que nos levam a apreciar algo… Que ultrapassam a técnica, a análise puramente crítica.
Conheço pessoas de uma capacidade cognitiva fantástica (prefiro não usar o termo inteligência) e que, nem por isso, deixam de gostar de um filme ‘feijão com arroz’, de uma comédia americana, de uma música brega (aliás, o que é uma música brega?)…
A vida só é possível da maneira que é. (E nem por isso tal idéia contraria Cecília Meireles, que disse: “A vida só é possível reinventada”.)
E a vida é linda. E essa beleza independe de literatura francesa, inglesa, italiana, brasileira; independe de rock, de música celta, de axé, de música clássica; independe de escritores do século passado, do século presente, do século futuro; independe dos gênios, dos iletrados…
A vida é.
“No momento em que o bom gosto toma consciência de si mesmo, parte de sua qualidade se esvai.”
“Todas as virtudes são menos formidáveis assim que o homem percebe que as têm…”
Duas pequenas citações que levo comigo desde quando as conheci. Ambas são do Lewis. Elas mostram o que você expressou em realação à falsa intelectualidade que enche de preconceitos a “aquisição” de cultura. Mas já notou que o maior preconceito ocorre de maneira inversa? Eu, por exemplo, odeio forró (exceto Luiz Gonzaga e outros do mesmo estilo) e não suporto axé. Por isso, sou altamente criticado. O que eu estou falando se confirma com os dizeres de sua amiga que não teve VERGONHA de gostar de Roberto Carlos. Por que haveria de ter? Letras belíssimas, um excelente cantor e compositor… Justamente, o preconceito vem do outro lado. Acho que não se pode colocar Chico Buarque e o Tchan no mesmo saco, mas são os admiradores do Tchan que não aceitam que você troque o Chico pelo Tchan, então te debocham.
Quantas vezes riram de mim porque eu escutava uma orquestra, um concerto de violinos, etc? Nem conto… e sabem quem eram esses que me zombavam? Aqueles que compram CD´s do “não-sei-o-que do forró” e do “MC fulano de tal”.
Dificilmente alguém que goste do Toquinho irá me censurar por eu gostar de Guilherme Arantes, Beto Guedes e 14 Bis. Mas é bem provável que aquele que dança o “Funk das Cachorras” faça pouco do meu gosto musical.
PS: Seu blog é bom demais!