faith

A função da oração não é influenciar Deus, mas especialmente mudar a natureza daquele que ora. (S. Kierkegaard, filósofo dinamarquês)

É do silêncio absoluto e profundo que se ouve o barulho da dor e da angústia. É a nossa perplexidade que se movimenta solitária no chão de nossa experiência. Ainda não compreendemos a suspensão temporária da vida. Será sempre difícil constatar os nossos ferimentos e observar as cicatrizes que nos deixaram. Sentir as coisas, sentir as pessoas, sentir a rocha, sentir a água… isso esboça que ainda respiramos, mesmo quando tudo fica mais devagar e sôfrego, quase agonizante. Há momentos nos quais gostaríamos de apenas fechar os olhos, deixar a nossa pele impermeável às decepções e à agonia… Há momentos nos quais desejaríamos nos tornar nada, absolutamente.
Mensurar o que vivemos não é o mesmo que tocar o que sentimos. O toque exige de nós uma delicadeza incomum, sobrenatural, portanto, rara. Se me disserem que irei me reconstruir, decerto estarão sendo coniventes com o engano. Existem experiências dolorosas demais, capazes de nos endurecer para sempre. Sou feita de pedaços. Alguns deles necrosados. E para não me tornar tão feia, precisarei ser amputada novamente. Queira Deus que agora o tecido morto não seja o coração! Já basta ter sido a alma.

2 Replies to “faith”

  1. Sobre esse “faith”, vejo que até já se antecipou a algum comentário.
    Fico com sentir as coisas, as pessoas, a rocha, a água. Bom demais (principalmente a última).
    Bjs.

  2. Marconiedes Araújo says: Responder

    Teus textos são lindos, profundos, poéticos e sobretudo filosóficos. Sem contar que deles emanam uma doçura que só poderiam mesmo advir de uma alma tão linda quanto a tua.

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