O estranho em relação à vida é que, embora sua natureza deva ter sido evidente para todo mundo há centenas de anos, ninguém deixou o registro adequado. As ruas de Londres estão mapeadas; nossas paixões, não. (trecho do livro O quarto de Jacob, de Virginia Woolf)
Passei os últimos meses sem me dedicar à leitura e publicação de textos para este site. E confesso que odeio a idéia de registrar aqui essa informação como se fosse em meu diário de adolescente, daqueles que ficam guardados debaixo do travesseiro, fechados por uma chave ridícula e minúscula, tão frágil quanto cabeças infantis… Internet dá nisto: exposição exagerada de nossa condição de imperfeitos e de nossas tolices. Mas, estou contaminada. E não vou resistir. Porque não quero.
Não, não tenho nenhuma pérola ou nenhum texto literariamente importante para ser lido pelos meus visitantes. Até mesmo porque, às vezes, a gente fala demais e não tem nada a dizer (ouvi isso de alguém ou de alguma música, talvez de Renato Russo). O certo é que – com o passar dos anos – aprendemos (ou deveríamos ser obrigados a aprender) o quanto nossa inteligência é enganada pelas idéias fixas. Conheço indivíduos tão “cabeça-dura”, mas tão “cabeça-dura”… E ainda existem aqueles que nos acusam de ser “cabeça-dura” só porque defendemos coisas nas quais acreditamos. Não é sobre isso que escrevo.
Se observarmos com mais atenção as pessoas com as quais convivemos, trabalhamos, conversamos e et cetera, teremos material suficiente para nos render textos variados e (talvez) infinitos. O ser humano é bizarro. (E não inventem de usar agora raciocínios dedutivos, do tipo: o ser humano é bizarro. Eu sou ser humano. Logo, eu sou bizarro…). Não, não nos ofendamos com tão pouco. O outro certo é que – com o passar dos anos – aprendemos que olhar nos olhos nem sempre é sinal de verdade, pois cinismo existe… E tem muitas outras habilidades. E isso é bizarro!
Tenhamos um ótimo 2009!
Nunca é de mais desejar o melhor…
Não há nada que se esconder! É assim mesmo: a gente escreve… não tem tempo.. cansa.. tem uma idéia… escreve… cansa… não tem tempo 🙂
Mas, em tudo isso, somos mais que vencedores, mas não perfeitos!
Feliz ano novo!
Que bom que voltaste a escrever, Alynee!Pela primeira vez consegui não me sentir burra kkkkkk sério: aproveito a oportunidade pra expressar publicamente a minha admiração pelo teu conhecimento, cultura, forma de se expressar, enfim, teu jeito de, às vezes, falar demais e ter muito a dizer. Por sinal, sim, este é um trecho de música do Renato Russo: Índios. Belíssima! Beijos, minha admirável escritora! 🙂
Um dia a cidade de Londres foi completamente mapeada, apesar da imensidão de ruas e locais. Mas o mapa das paixões humanas ainda não foi completado e talvez jamais será. Esse pensamento da Virgínia Woolf, confirma o seu. Saudades. Beijos.
O contexto da frase na música de Renato Russo é esse: “Quem me dera ao menos uma vez provar que quem tem mais do que precisa ter quase sempre se convence que não tem o bastante e fala demais por não ter nada a dizer”.
Mas acho que de outra música podemos tirar outra frase bastante interessante: “Acho que não sei quem sou, só sei do que não gosto”. Isso se aplica bem a esse texto. Devemos saber pelo menos do que não gostamos para ser menos ácida a aprendizagem da “enganosidade” das idéias fixas, pois por mais que pareça óbvio, não temos nada a dizer quando percebemos que não temos certeza do que sentimos ou pensamos – não queremos ser inseguros. Queremos sempre ter algo a dizer para que todos saibam o quão seguros nós somos. Aí vem o cinismo – e todas as outras habilidades – que nos fazem ver (ou pelo menos deveriam nos fazer ver) o quão enganados estamos conoscos mesmos.
“Tudo é dor. E toda dor vem do desejo de não sentirmos dor…”
Menina! Estou com saudades!
Beijos,
gostei do texto. eu sou do tempo dos diários infantis e suas chavinhas…acho legal quando dizem que não tem nada a dizer, aliás eu faço muito isso porque existem pessoas que pensam que sempre temos que ter opinião formada sobre tudo, eu não tenho e nem aguento isso…
bjins – ahhh a sua foto está lá…ficou linda! Obrigada pela presença especial!
Às vezes nos afogamos na literatura e esquecemos de refletir por si prórpios. Em algum lugar, um shopping, por exemplo, reserve 10 minutos para observar as pessoas… é impressionante o que aprendemos observando e refletindo sobre o meio em que estamos inseridos. Percebi que os textos que mais me impressionam são aqueles em que o autor teve uma boa capacidade de observação. São sempre aqueles textos em que, a cada parágrafo levanto a cabeça, meio encucado, e digo: “Por que não pensei nisso antes?”… é uma descoberta simples que impressiona. Simples observação, nada de exegese e maquinação…
PS: Ouviu aquilo de Renato Russo mesmo: “Fala demais por não ter nada a dizer…”
Abraço.