“A ideia de que qualquer um pode produzir jornalismo é de uma estupidez tremenda. E mais. Nenhum jornal deixou de contratar colaboradores, nos últimos 40 anos, para atuar como articulistas ou especialistas em assunto. A tentativa aqui dos jornalões e do ministro Gilmar Mendes é tentar impor um nivelamento geral, por baixo, enquadrando os que se opõem a esse discurso maroto da defesa da liberdade de expressão. Buscam homogeneizar as condutas dos repórteres independentes.” (Olímpio Cruz Neto, jornalista, assessor de imprensa e professor de jornalismo. Trabalhou no Jornal do Brasil, Folha de S.Paulo, O Globo e Correio Braziliense, entre outros jornais da imprensa nacional)
“As pessoas esquecem que os jornais vão e vêm. O jornalismo, não. As pessoas vão sempre precisar de notícia e informação. Sem informação não se administra um negócio, não se vende ingresso para o teatro, não se divulga uma política externa. Todos os dias, nos jornais das cidades grandes ou pequenas, repórteres vão à rua para fazer o que não é feito por mais ninguém.” (Gay Talese, escritor e jornalista norte-americano. Um dos criadores do movimento chamado de Novo Jornalismo, criado na década de 1960, que incorporava no jornalismo características literárias)
Após a decisão ridícula do Supremo Tribunal Federal (STF) de retirar a obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão, com argumentos imbecis, burros e mal fundamentados, eu, Aline Menezes, jornalista por formação (e não por deformação), compartilho com os meus amigos leitores a minha revolta contra esse tipo de desdém. Neste momento, pessoas motivadas pela tentativa de desqualificar, desvalorizar e reduzir os aspectos e impactos políticos e sociais do jornalismo, entre outros, batem no peito e se orgulham de tratar profissionais como verdadeiros ratos de laboratório.
Quero ser Juiz de Direito
Sem exigência de diploma
Gadelha Neto, jornalista
A decisão do STF, que dispensa o diploma de Jornalismo para o exercício da profissão, me abre um mundo novo: a possibilidade de ser Juiz de Direito e, quem sabe, até alçar voo rumo ao próprio Supremo.
Sim, porque a decisão deixou claro que a minha profissão não exige diploma porque não são necessários conhecimentos técnicos ou científicos para o seu exercício. Disse mais: que o direito à expressão fica garantido a todos com tal ?martelada?.
Tampouco a respeitabilíssima profissão de advogado e o não menos respeitável exercício do cargo de juiz pressupõem qualquer conhecimento técnico ou científico. Portanto me avoco o direito (e, mesmo, a obrigação), já que assim está decidido, de defender a sociedade brasileira diante dos tribunais e na própria condução de julgamentos.
Além de ser alfabetizado e, portanto, apto a ler, entender, decorar e interpretar nossos códigos e leis, tenho 52 anos (o que me dá experiência de vida e discernimento sobre o certo e o errado) e estudei ? durante o curso de jornalismo (!) ? filosofia, direito, psicologia social, antropologia e ética ? entre outras disciplinas tão importantes quanto culinária ou moda: redação em jornalismo, estética e comunicação de massa, radiojornalismo, telejornalismo, jornalismo impresso etc.
Com essa bagagem e muita disposição, posso me dedicar aos estudos e concorrer às vagas de juiz pelo Brasil afora, em pé de igualdade com os colegas advogados. Também posso pagar e me dedicar aos cursos especializados em concursos públicos para o cargo, se eu julgar necessário. E não é justo que me exijam, em momento algum, qualquer diploma ao candidatar-me ao cargo.
Afinal, se a pena de um jornalista não pode causar mal à sociedade (!!?), a de um juiz também não teria este poder de fogo. As leis ? e elas são justas em si ? existem para serem cumpridas e cabe a um juiz, tão somente ? usando da simplicidade do STF ? seguir a ?receita de bolo? descrita pelos nossos códigos. Assim sendo, um juiz não pode causar mal algum a ninguém, se seguir, estritamente, o que determina a lei. Concordamos?
Data venia, meus colegas advogados, por quem nutro o devido respeito (minha mãe, cunhada, irmão e sobrinha ? por favor, compreendam), quero ser juiz porque é um direito meu, assegurado pelo STF, e o salário de jornalista não está lá estas coisas.
eu apóio a causa, mas não a exclusividade, reserva de mercado ou controle corporativo. É razoável exigir o diploma para o exercício regular da profissão, resguardas certas condições.
Agora, se o Gilmar Mendes pode ser ministro do supremo eu posso ser Deus. hahahah
É uma vergonha este nosso governo e sua preocupação quanto à educação. Sinto muito.
Abraços.
Todo mundo se faz se inocente, esquecendo-se(?) que comunicação é uma dos pilares da formação do pensamento da sociedade (para o bem e para o mal) e a educação, uma das ferramentas que teríamos para criticar e analisar esse pensamento, já não é lá essas coisas. Lembra a piada do português, que após arrancar as pernas da barata e ver que ela não correspondia as suas ordens de andar, concluiu que “a barata sem pernas é surda”.
Aline,
Sei que é delicado, mas muito do que está acontecendo é fruto do desenvolvimento do jornalismo no Brasil e da desunião e oportunismo dos jornalistas, categoria extremamente influente, mas que não tem a menor consciência profissional, vide todo o tempo que a lei de imprensa vigorou e a questão do diploma, minado mormente pelos próprios jornalistas. Quantos artigos de jornalistas influentes saíram nos últimos dias condenando a decisão do STJ? É isso… Lembro-me da nossa luta há 20 anos, e vários colegas estudantes de jornalismo eram contra a obrigatoriedade do diploma. Cara amiga, não se empolgue nessa luta, preserve-se um pouco, 90% da categoria não merece o seu esforço. Vc merece, isso eu sei.