Perguntem aos pensadores, aos teóricos, aos filósofos que se esforçam por fazer um “trabalho racional”: eles lhe confirmarão, se forem sinceros, que o pensamento frio é estéril e que o trabalho intelectual só é fecundo sob a condição de ser movido por uma vibração emocional. As construções teóricas são arquiteturas vazias, quando não são habitadas pela palpitação do imaginário, pelo júbilo e pelo entusiasmo. (Michel Lacroix, filósofo francês, p. 88)
… aprendo a sutileza das coisas imperceptíveis. O cinismo – enquanto indiferença à dor do outro – é o vício comum da alma equivocada. Até mesmo as certezas são, às vezes, fagulhas da imaturidade. Exatamente por isso cabe ao tempo, substantivo vagaroso demais para quem sofre, a coragem de provar que tudo passa. O tempo possui a intrepidez necessária para aquietar a ventania de nossa existência.
Aqui dentro, embrulho cuidadosamente a esperança. Pois é ela quem me ensina certas emoções. É ela quem me alcança as lágrimas noturnas. E quem me levanta todas as manhãs. Aqui dentro, permanece o som silencioso, mas não vazio, de sensações doídas. Palavras que jamais poderei dizer, desamparadas. Sentimentos que enfraquecem o meu corpo: hoje cada minuto passa de hora em hora.
A dor me torna febril e poética, expõe em sequência as minhas lembranças. Fragiliza o meu espírito e tenta adormecer os meus sentidos. Mas ainda ouço a minha inquietação, cansativa e sufocante, aversa à alexitimia. E à timidez mórbida que se disfarça de afetos virtuais…
… miragens de pessoas vaidosas. Que trocam declarações e compatibilidades, ingênuos em busca de admiração mútua. Incapazes de sentir qualquer coisa que não seja fantasia. Apatia também é o estado de quem não consegue andar de mãos dadas.
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LACROIX, Michel. O culto da emoção. Tradução Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: José Olympio, 2006, p. 88.