DEIXE-ME RIR, HOMO VIDENS!

Estou absolutamente cansado de literatura; só a mudez me faz companhia. (O narrador em A hora da estrela, de Clarice Lispector)

É verdade: às vezes, temos vontade de estapear as pessoas, numa tentativa de fazê-las acordarem dos mundinhos medíocres e banais onde vivem. Temos vontade de sacudi-las e obrigá-las a serem mais perspicazes. É quando nos damos conta de que a vida é assim, cheia de gente nojenta e plastificada, que nem mesmo o mais talentoso do cinismo ácido consegue alcançá-la.

Colocamo-nos de pé, diante do espelho, e nos transformamos em pequenas memórias póstumas, atacando tudo que procede do homem, sobretudo do homem natural. Não suportamos aquelas gentes de sorrisos forçados, olhares indiscretos e gestos descaradamente perversos e maldosos. Queremos apenas encontrar alguém com quem possamos conversar de igual para igual, desarmados.

Nesta época de laços humanos fragilizados e sociedades líquidas (como diria o sociólogo polonês Zygmunt Bauman), o que vemos mesmo é a neurose coletiva da burrice robotizada [o quê?]. Não se contempla mais o indivíduo, com todas as suas complexidades e particularidades, mas somos todos aviltados, mediante trocas simbólicas do que seja realmente vida. Patifes em cenas patéticas!

Resta-nos esperança: termos segurança do que somos, independentemente da idiotice e maledicência em nossa volta, dos gostos e padrões massificados, dos seres controlados pela vaga ideia da felicidade e prazeres instantâneos. Corpos sarados e mentes adoecidas. Ditam-nos o que é ser bonito, como se o homem já houvesse alcançado a proeza de desvendar o belo. Tolos em cenas tolhidas!

… apenas rio em mim.

5 Replies to “DEIXE-ME RIR, HOMO VIDENS!”

  1. Pois é, antes das previsões mais loucas dos cientistas, constatamos: a humanidade já se robotizou. E se idiotizou junto.

  2. Adoro pessoas eh surtos, acho que são nesses momentos que elas se encontram com seu verdadeiro eu, numa espécie de LSD produzido pelo estado de neurose. Gostei de suas palavras, de seu conhecimento teórico que se faz prático e principalmente de sua revolta. Adoro revolta,a boa revolta nunca deve ser abafada, pelo contrário. No mais estou a ponto de criar uma teoria, não acredito que a robótica tenha idiotizado o homem, o homem sempre foi idiota, e assim em sua idiotice cria meios que sirvam de bodes expiatórios para jogar suas culpas, foi assim durante toda a história, tudo era culpa de forças exteriores, e não interiores e pessoais. Eh sempre culpa da crise, do calor ou dos fatores sociais, sendo que Cristo alerta que a culpa é pessoal e intranferível, aos que conseguem entender isso optam por dois caminhos: ou passam a viver como Roskolnikov, vivendo nossos castigos pelos crimes que cometem, numa eterna luta dostoieswiskiana, ou então aceitam a simplicidade da graça e vivem ALEGRES para sempre, afinal a alegria do Senhor é a nossa força. Bjos Aline, muitas saudades, queria te dar uma abraço agora!

  3. Esperem aí: não seriam aquelas pessoas que deveriam estar incomodadas conosco? Ou será que somos iguais a elas?

  4. espetacular o seu texto!!
    Gostaria de conversarcom vc, tenho uma propósta.

    Me escreva se puder….

    T.

  5. Adorei o seu texto! O mundo está carente de pessoas como vc Aline.

    Obs: Sou sua fã!!!rsrsrs

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