A ciência é grosseira, a vida é sutil, e é para corrigir essa distância que a literatura nos importa. (Roland Barthes)
Mudança de planos; alteração de percurso; troca de turno: a vida nos impele… Aprendo que, às vezes, decisões radicais são a única possibilidade de preservação da vida. Porque a certeza que nos apanha a alma só é real quando acompanhada de esperança. Há caminhos lentos. Esses, os mais dolorosos.
… e assim decido viver, seguindo o fluxo da atmosfera pessoal e intimista. Na melhor perfomance do egoísmo, após a sequência exagerada de ações altruístas demais. Aguardo impacientemente a hora em que me perdoarei pelas escolhas ingênuas e imaturas que um dia fiz.
Descubro o meu limite, noto aqui dentro o alívio de não ter mais bagagem para carregar. Pego o próximo trem e aceno olhando para trás: perdi muitas coisas, questões íntimas demais para serem expostas em espaços tão vulneráveis. Mas também ganhei a força necessária para não sentir falta do que não me faz bem.
Avalio cuidadosamente as minhas feridas; sem anestesia, decido mexê-las. Movida pela lucidez de que é preciso me apropriar de mim. Tomo conto do que sinto, toco-me e percebo o meu corpo, minhas pernas, meus seios: existo – e essa é razão pela qual decido prosseguir.
… sem cortes, assim: nua.
Aline: sem cortes não há cicatrizes, e estas são as memórias da existência.
Usar Barthes é crueldade, não tem como não ler, rs.
“Toco-me e percebo o meu corpo, minhas pernas, meus seios: existo – e essa é razão pela qual decido prosseguir” – Essa essência do existir material é palpável. O que fazer quando você não se enxergar em seus pensamentos e idéias? Quando o penso logo existo é mais uma frase banal?