O limite da arte é o silêncio. (Hermenegildo Bastos)
As coisas que me importam não são mensuráveis. Insisto em andar na contramão da estupidez deste lugar: onde a matéria vale mais que a alma; a roupa, mais que o corpo; a aparência, mais que o ser. As coisas de que preciso não estão à venda nos shoppings, nem nas grifes, nem nos trágicos espetáculos televisivos. Muito menos nas revistas de celebridades.
Esta minha relativa liberdade: de escolher o caminho da reflexão, de não me conformar. De não me iludir com o hedonismo. De não consumir – a qualquer custo – tudo que me é oferecido, que está disponível, online. Movimentos frenéticos, alucinantes, ritmos que tentam me impedir de sentir dor. Aquela dor que representa a profundidade da vida. Indispensável à lucidez.
Mas sei também que é necessário aceitar certos processos impositivos na vida. Ou enlouqueço.
Resista minha cara, resista! 🙂
Pensar diferente é uma arte. Arte que às vezes se espalha em outras formas sem pensamento, ou pensamentos sem formas:
“O fato é que o pente estava sem costela. Não se poderia mais dizer se aquela coisa fora um pente ou um leque. As cores a chifre de que fora feito o pente deram lugar a um esverdeado a musgo. Acho que os bichos do lugar mijavam muito naquele desobjeto. O fato é que o pente perdera a sua personalidade. Estava encostado às raízes de uma árvore e não servia mais nem para pentear macaco. O menino que era esquerdo e tinha cacoete pra poeta, justamente ele enxergara o pente naquele estado terminal. E o menino deu para imaginar que o pente, naquele estado, já estaria incorporado à natureza como um rio, um osso, um lagarto. Eu acho que as árvores colaboravam na solidao daquele pente.”
Manoel de Barros.
Beijos.