A utopia da internet é que já não necessitamos ser representados, a democracia é de todos, somos todos iguais. Mentira. Nunca fomos nem somos nem seremos iguais. E, portanto, a democracia de todos é mentira. Seguimos necessitando de mediações de representação das diferentes dimensões da vida. Precisamos de partidos políticos ou de uma associação de pais em um colégio, por exemplo. (Martín-Barbero, filósofo espanhol)
Sempre que andamos (ou tentamos andar) na contramão da estupidez ocidental, preservando-nos da alienação, das psicoses provocadas por qualquer tipo de pensamento ou comportamento que não gera vida em nós, nem muito menos ajusta nossa percepção, vemos os desenhos mais sutis de uma alma em caricatura. Sim, já sabemos: não somos impermeáveis. Às vezes, todos estão presos por algemas e acorrentados. O pior é que nem sempre se dão conta disso. Falta-lhes (ou falta-nos) consciência.
É verdade: a lucidez nos arrebenta; o equilíbrio também nos cansa. Há momentos em que só queremos um pouco mais de loucura. Mas tudo isso é bestagem. Tolice de nossas fantasias. Solidão de tanta gente junta. Vazios de terras cheias de ilusões. Sejamos assim mesmo, equilibradamente desalinhados. Águas cristalinas tão limpas quanto nossas impurezas de ser. A cena do crime já foi alterada. E os suspeitos… cada um de nós.
Às vezes, pergunto-me se encontraremos mais dragões ou moinhos de vento. Se a cegueira era apenas um ensaio. Temos o que ficou ou não há tanta sorte assim? Mas tudo bem: é “um prazer cada vez mais raro… vaidades que a terra um dia há de comer”.
Adorei a citação de Barbero, levanta questões bastante atuais e perinentes, as quais muitas vezes não pensamos, e, não pensando, agimos de forma alienada. Quanto ao seu questionamento acho que temos muito mais dragões, moinhos de ventos são poucos.
A cegueira foi só o ensaio.. no jogo da vida que está correndo, cegueira, alienação e fantasia são os solistas dessa orquestra de auto-destruição comandada pelo HOMEM 666.
“Se a cegueira era apenas um ensaio”, então os figurantes da película chamada VIDA representamos muito bem o que nos foi passado no “script” da boa vivência, daí a necessidade de sabermos “se encontraremos mais dragões ou moinhos de vento” (filosofia em demasia, não?).