Nesta terça-feira (21/4), Brasília completa 60 anos, assim como a Universidade de Brasília (UnB) faz 58. Para comemorar esta data, apresento o poema “Brasília”, de Sylvia Plath (1932-1963), embora não haja evidências de que ele tenha sido escrito em razão da capital federal. De todo modo, eu o acho interessante e me desperta imagens e ideias acerca desta terra onde estou há duas décadas, desde que mudei – definitivamente – de Tobias Barreto, Sergipe, para o Cerrado.

“Brasília” é um poema pouco conhecido de Plath. Ela o escreveu em dezembro de 1962, em Devon (Inglaterra). No Brasil, ele aparece traduzido por outra poeta de quem também gosto, a portuguesa Matilde Campilho, no livro “Desenhos” (Biblioteca Azul, 2014), que reúne alguns dos desenhos e cartas da poeta americana, com prefácio da filha Frieda Hughes. Como bem mencionou o professor Alexandre Pilati (UnB) hoje, em minha página no Facebook, este poema é uma “raridade delicada e intensa”. Segue:
Brasília
Será que eles vão intervir,
Essas pessoas com torsos de aço
Cotovelos alados e buracos por onde espreitar
Multidões que esperam
Nuvens que lhes deem expressão,
Essas super-pessoas! —
E meu bebê um pouco
Acelerado, acelerado.
Ele guincha dentro de sua gordura,
Ossos bisbilhotando as distâncias.
E eu, quase extinta,
Seus três dentes cortando
A si mesmos em meu polegar —
E a estrela,
A velha história.
Na estrada me cruzo com ovelhas e carroças,
Terra vermelha, sangue materno.
Ó, Tu me comes
Pessoas como raios de luz, deixa
Este
Espelho a salvo, sem redenção
Pela aniquilação da pomba,
A glória
O poder, a glória.
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PLATH, Sylvia. Brasília. In: Desenhos. Trad. Matilde Campilho. São Paulo: Editora Globo (Biblioteca Azul), 2014, p. 22 e 23.

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Foto principal: Reprodução / Plano Piloto de Brasília.