aloneness

[…] “aloneness as a human condition; as a greater, graver issue”... (Adrien Brody, em entrevista ao The Observer, sobre o filme Detachment)

Enquanto não consigo parar a minha vida a fim de passar horas e horas assistindo aos filmes que integram a minha lista particular cinematográfica, e isso inclui sessões das mais diversas nacionalidades (não gosto de coisas homogêneas), satisfaço-me lendo entrevistas concedidas pelos atores durante a divulgação de seus trabalhos. Para o jornal The Observer, vinculado ao britânico The Guardian, o vencedor do Oscar de melhor ator em 2002 pelo filme O pianista, Adrien Brody, conversou com a jornalista Alex Clark sobre a nova produção Detachment (2011), dirigida por Tony Kaye (você sabe quem é ele?). O título da matéria publicada recentemente é Adrien Brody: The quiet American, também disponível em português no site da revista CartaCapital. De tudo que li no texto, apenas uma frase quero destacar brevemente aqui: “a solidão como condição humana; como uma questão maior e mais grave”. 

Em geral, não gosto das sinopses que acompanham os encartes das películas, pois seja lá quem as escreva, sempre tenho a impressão de que a pessoa responsável pelo texto não viu o filme e reproduziu o que lhe parecia mais óbvio (talvez a ideia seja essa mesmo). Bom, ainda não vi Detachment, então não posso comparar os resumos que fazem por aí. De qualquer modo, a narrativa envolve a vida do professor substituto Henry Barthes, interpretado por Brody. (Acabei de perceber que cometo o mesmo erro que desaprovo, a sinopse de algo que não vi). Na entrevista ao The Observer, o ator conta que não se trata apenas de um filme sobre os problemas do ensino nos Estados Unidos, mais que isso, segundo ele, é sobre a solidão, que me parece algo tão nosso como tudo o que somos. A propósito, já escrevi neste site que, “depois de um tempo, você descobre que continua só; porque solidão é coisa estranha: dá na gente, mesmo quando acompanhada”.

Sim, você tem razão: a entrevista com Adrien Brody foi apenas um pretexto para eu falar sobre solidão. Mas sou assim mesmo: gosto de exercitar a escrita; sei que poderia já ir direto ao assunto, mas a minha existência é tão indireta, que eu não conseguiria ser diferente neste caso… Solidão é o que experimento há anos, na verdade, somos essencialmente solitários, não tem jeito. Sentir as coisas de modo profundo é algo bem enlouquecedor, e chego a me perguntar se, se fosse possível, eu iria preferir viver de outra maneira, passar pela vida apenas arrastando os pés no chão ou, pior, tocando sempre as nuvens. Não. Apesar da dor que sentimos por todas as vezes em que buscamos a lucidez, ainda assim, eu a escolheria. E na minha busca diária por viver a vida intensamente (leia-se: in-ten-sa-men-te, não de maneira irresponsável, tosca, imprudente, alienadamente prazerosa), deparo com situações bem dolorosas: a constatação de que estaremos sempre sozinhos em nossas angústias, em nossas descobertas humanas, em nossos instantes mais profundos.

Vivo solitariamente. Questiono o mundo, revolto-me contra ele. Não entendo a estupidez, não aceito gente irresoluta. Para mim, o planeta é bizarro, mas não por conta do portal G1; é bizarro porque a importância que se dá às pessoas é inexistente, ao passo que todo o resto é visto como relevante. Há muita gente tacanha, mesquinha, bruta. Talvez por isso, seja tão libertador compreendermos a nossa condição de solitários. Não tenho humor para suportar o descaso com a vida. Não tenho humor para suportar o meu país, cuja violência parece não atingir ninguém. E tento todos os dias inventar um modo diferente de resistir a tudo isso. Não consigo. Resta-me sempre escrever… solitariamente.

One Reply to “aloneness”

  1. Aline, boa opção a sua de partir de um filme e da música (O Pianista e Tony K.). Acho que a arte nos coloca num redemoinho, ora nos eleva ora nos põe no chão mais duro. Viver em tempo de guerra e barbárie não é nada fácil. ´
    Lembrei-me agora de Milton e Chico: “Como então? Desgarrados da terra?
    Como assim? Levantados do chão?
    Como embaixo dos pés uma terra
    Como água escorrendo da mão?”
    Um beijo

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