Do meu lado esquerdo, há um pai segurando o filho no colo e um livro infantil nas mãos. O pai lê para o filho a historinha de Max, o carro falante, e das personagens Carolina e Beatriz. O filho, curioso, a cada frase do pai, faz-lhe uma pergunta. Eles ficam assim por algum tempo.
Eu, sentada no chão, escrevendo estas linhas, observo as pessoas em minha volta: algumas estão com os seus notebooks; outras, com as suas inquietações. Alguns lêem revistas, fazem anotações, andam de um lado para o outro. Ou, simplesmente, aguardam a hora do embarque.
O vôo está atrasado. Poucos minutos atrasados. Neste momento, tento não pensar em minhas frustrações, luto contra as lembranças, invento que estou melhor. Nada adianta. Quanto mais não quero pensar, mais penso.
Duas mulheres acabam de se conhecer no saguão do aeroporto. Elas nada sabem uma da outra. Mesmo assim, acreditam ser grandes amigas. Do outro lado, uma mulher folheia a Caras. Um senhor lê um livro de aproximadamente 150 páginas. Tentei ver o título da obra, mas não foi possível… Ah, nunca saberei o que ele estava lendo!
E eu? Eu estou do lado de cá, consciente. Consciente de meu fracasso. Às vezes, nossa vida é como um saguão de aeroporto: todos têm a expectativa de vôo, mas nem todos embarcam na hora certa…
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IMENSIDÃO
Vôo
só. Sozinha vou,
num vôo só.
Vôo
só. Sozinha vou,
num vôo só.
Céu que não é seu.
O seu é o céu.
Na imensidão de
sentir-se sol.
(Por Aline Menezes)
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